O que é academia do cérebro?

O cérebro também vai à academia

Escrever com a outra mão ajuda o cérebro a demandar atividades em outras áreas. O nome disso é neuróbica.

Ver um jovem fazendo ginástica com o propósito de esculpir o corpo soa bastante familiar. Mas ainda estranhamos o fato de academias treinarem o cérebro para deixá-lo mais afiado. A ideia que vem sendo desenvolvida por precursores da neuróbica, espécie de aeróbica para o pensamento, defende que podemos formatar o nosso cérebro da maneira que queremos.
Na prática, funciona assim: para tirar o cérebro da zona de conforto, é preciso acostumar-se a desacostumar-se. Ou seja: fazer coisas diferentes e de forma inusitada. Colocar o relógio no pulso contrário, escrever com a outra mão ou vestir-se de olhos fechados são atividades que demandam a ativação de outras áreas da mente. A sistematização dessas atividades chama-se neuróbica. Ao fazer isso, circuitos quase nunca ativados da rede associativa do cérebro são utilizados, aumentando a flexibilidade mental.
Há muito já se tem conhecimento que alimentação sadia, sono regular, exercício físico e uso cognitivo (estímulo pela música, leitura ou matemática, por exemplo) são pilares para manter o cérebro ativo. O ponto é que, para cuidar bem, não basta mantê-lo ativo: é preciso desafiá-lo de maneira rotineira.
"Um erro clássico é que muitas pessoas não dormem direito, não comem bem, não fazem atividade física e ainda por cima "aposentam" o cérebro. Aí a pessoa vai ver o filme e estranha não lembrar o nome do ator", brinca a neurocientista Carla Tiepo.
Para tornar a massa cinzenta mais eficiente, Carla entende que a tecnologia ajuda, mas não substitui o estudo, o uso de objetos concretos e as relações presenciais. Isso porque as dinâmicas e interações são bons estímulos para as sinapses.
Ceticismo
Há pouco mais de uma década, quando o conceito de neuróbica surgiu nos Estados Unidos, foi amplamente propagado pelo mundo por meio de dezenas de obras sobre cognição cerebral. Um dos títulos mais conhecidos foi Mantenha seu Cérebro Vivo, de Lawrence C. Katz e Manning Rubin. "Só com estudo e pesquisa podemos tentar obter o cérebro que queremos" afirma Rubin.
Segundo ele, a maioria dos chamados exercícios cerebrais pode ajudar a fazer uma tarefa mais rapidamente pela repetição ou a melhorar uma habilidade específica. Rechaçado por céticos na época, o assunto hoje é visto com outros olhos.
"As pesquisas já comprovaram que um ambiente enriquecido associado à prática de exercícios tem efeito positivo no sistema neural envolvido com aprendizado e memória. Pesquisas com neuroimagem mostram que o exercício leva a evidentes mudanças na estrutura e função do cérebro" diz Mirna Wetters Portuguez, coordenadora de Pesquisa em Neuropsicologia do Instituto do Cérebro (InsCer).
Da matemática para a vida, tudo vira treino
Há alguns anos, academias de ginástica cerebral espalham-se pelo Brasil. Métodos ao estilo do Supera apostam em técnicas como o uso do ábaco — a calculadora chinesa — para melhorar a agilidade mental. Os professores garantem deixar seus alunos mais espertos. "Fazemos o cérebro se acostumar com algumas regrinhas que organizam o pensamento. Estimulamos a função lógica. No final das contas, o benefício acaba sendo para a vida em geral", diz Daniel Roberto Trevisan, diretor do método em Porto Alegre.
Baseado no método francês Happy Neuron, o treinamento estimula as cinco principais funções cognitivas (memória, atenção, linguagem, raciocínio e visual-espacial), levando em conta critérios de personalização e entretenimento. "Da mesma forma que você vai na academia e malha o corpo para ter a forma que você quer, pode fazer isso com o cérebro, e treiná-lo para que ele pense do jeito que você deseja. Só que isso requer foco, disciplina e determinação", ressalta Carla Tiepo, consultora do método.
É isso que busca a aposentada Dulce Terezinha Bernardon, 71 anos, nas aulas que participa há cerca de 18 meses. Além de ocupar o tempo que ficou ocioso desde que parou de trabalhar em um escritório de contabilidade, a intenção é adquirir novos hábitos de vida. "Já comecei a vencer alguns medos, como viajar sozinha, por exemplo. Fui para o Nordeste e pretendo voltar" diz, sentindo-se encorajada.
Na outra ponta da vida, a estudante Manoela Bubanz de Mouro, 16 anos, começou a fazer a ginástica cerebral para acompanhar a avó, mas acabou pegando gosto pela coisa. O interesse por matemática melhorou naturalmente quando ela começou a treinar para fazer cálculos gigantes, sem usar calculadora nem papel. De lambuja, as notas na escola melhoraram.

Fonte: www.gazetadopovo.com.br/saude/o-cerebro-tambem-vai-a-academia

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